O ficar mais em casa nestes tempos de pandemia, sem receber amigos e parentes, nos abriu os olhos para dois fatos bem interessantes no relacionamento familiar. A convivência ininterrupta, quase forçada, do grupo, e a figura do pai ao cuidar dos (as) filhos (as) na ausência da mãe, são fenômenos que ocorreram e ainda ocorrem com frequência em famílias que não haviam experimentado antes essas situações. Vale a pena refletir a respeito desses temas.
A intimidade pessoal é construída com muito esforço. Em tempos de máxima exposição nas redes virtuais, é difícil pensar nessa questão pois a regular revelação de si mesmo é o que costuma trazer maior audiência e visibilidade nas redes. Entretanto, não saber distinguir o que deve ser colocado em público e o que deve ser mantido na privacidade oferece sempre um grande risco de julgamento e humilhação, que comprometem a saúde afetiva da pessoa.
A maturidade é que pode proporcionar uma intimidade mais sólida, porém sempre em constante construção já que os perigos – como as citadas redes – estão sempre presentes. Já a intimidade nas relações, como a que acontece no interior das famílias, se constrói com a convivência. Morar junto, partilhar projetos de vida, cuidar dos (as) filhos (as) e, muitas vezes, de pais idosos, organizar juntos o orçamento familiar, tudo isso permite uma cumplicidade entre o par de adultos.
A intimidade permite a falta de cerimônia na relação, a sinceridade e a transparência; a parceria e, principalmente, confiança e colaboração mútua. Entretanto, na intimidade também surgem questões complexas. É nessa situação que os defeitos de cada um ganham grande destaque ao olhar o outro, que a falta de cerimônia pode dar espaço à falta de respeito.
Muitas famílias, que antes da pandemia mal tinham tempo de se relacionar, ganharam muito tempo com a convivência no isolamento social. Entretanto, outras não conseguiram respeitar os limites das relações e descambaram para a violência doméstica – não só física -, que disparou em nosso país.
É preciso olhar com cuidado para essa questão porque a intimidade no grupo familiar é o que possibilita bem-estar a todos os integrantes e ambiente salutar para o bom desenvolvimento dos mais novos.
Rosely Sayão é Psicóloga e Consultora Educacional